Os anos se passaram e Marília quase não os viu ir ou vir,
não sei. Em uma manhã ensolarada a moça acorda animada, suas férias começam
hoje. Sim, parece que se passaram anos desde suas últimas férias, o descanso
não lhe é algo aproveitado. Marília é aquele tipo de mulher rápida,
inteligente, antenada, ligada no café de extremo produtiva. Mas por alguma
razão, naquela manhã ela não era Marília a mulher de todos os dias, ela era uma
mulher diferente.
Levanta-se devagar a esfregar os olhos, sente-se cansada com
o peso de algo nas costas. Um peso enorme. O peso da solidão. A solidão a sua
volta é palpável, penetrante, ardida. Naquela manhã Marília se deu conta do que
a muito não via, sua solidão era insuportável. Diante do espelho ela se olhava
admirada, quanto tempo se passara? Trinta anos, puxa uma vida inteira! Aqueles
detalhes não estavam lá. Os olhos dela percorriam o rosto em busca da jovem de
anos atrás. Aquelas linhas próximas a sua janela da alma, não, são novas. Como
surgiram? Era sua expressão. Como surgiram? Quando surgiram? Não sei dizer.
Ah o tempo, seu mentiroso. Passa tão rápido que não o vemos
passar. A mulher agora examina novos sinais próximo ao buço, hum... Aquele tal
bigode chinês. O tempo a mudara, o tempo realmente a enganara. Eternidade era o
que a fazia correr sem olhar para os lados. Eternidade... Que maldade! A
eternidade não é uma realidade, se deu conta. E o que eu fiz? Pensava Marília.
Quem eu amei? Lamentava Marília. Não eram apenas os sinais em sua pele que
evidenciavam o passar do tempo, dentro de si a mulher, agora nova, fazia
perguntas as quais eram profundas e nunca havia tido tempo para questionar.
Por que hoje? Por que agora? Marília caminha de camisola até
a janela do seu quarto e do alto com olhos semicerrados observa o sol, abraça o
próprio corpo em consolo. Ontem foi meu aniversário.
By Danielle Rodrigues
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